27 dezembro 2010

E chovia

e se abaixava com a chuva que descia na guia, 
e a cada gota aguardava o beijo que emergia,
e toda nua dançava, e na água suja escorria,
e do gotejo que agia ela chupava e lambia,
e o corpo todo se enchia da enxurrada do dia,
se encaixava e girava, regozijava e tremia,
jorrando cheiro de orgia,
imaginava e mordia,
já enxarcada gemia, 
o objetivo atingia
gritava o quanto podia
e, germinada, sorria.




Isaac Ruy

25 dezembro 2010

Noite de Natal

       Estava fingindo que dormia.
       Já esperava o natal há 12 meses, passava um e contava os dias para o próximo.
      Mesmo todos dizendo que era mentira, sabia que o Papai Noel visitaria sua casa. Esse ano a carta foi caprichada e ele tinha, realmente, sido um menino menos levado.
       Já era bem tarde e toda a família dormia - menos ele, queria conferir o presente antes de todos. 
       De repente um barulho na janela da sala.
       "O Papai Noel deve estar procurando outro modo de entrar", afinal a casa não tinha chaminé. Barulho de passos, de móveis se arrastando e, finalmente, da janela sendo fechada.
       Esperou mais alguns segundos, para ter certeza de que o cômodo já estava vazio e foi correndo até a janela, para tentar ver o trenó indo embora, mas tudo o que viu foi a rua vazia e um céu sem estrelas.
       Quando voltou o olhar para a sala, os olhos se encheram de lágrimas.
       O Papai Noel tinha levado a televisão.
Isaac Ruy
 

16 dezembro 2010

The sound of silence

The Sound Of Silence 

Paul Simon

Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.

In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone,
'Neath the halo of a street lamp,
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dared
Disturb the sound of silence.


"Fools" said I, "You do not know"
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence

And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning,
In the words that it was forming.
And the sign said, "The words of the prophets are written on the subway walls
And tenement halls."
And whisper'd in the sounds of silence.


Canção de Simon & Garfunkel
Linda letra e melodia...
me da uma saudade de não sei o que...
acompanhando a letra soa uma canção triste...
aiai... não encontrei nada legal para postar...
achei melhor indicar algo...
espero que gostem...
tanto quanto eu...
gosto...


02 dezembro 2010

História sobre o depois de um mês de sexo quente

Ele _ Eu te amo...
Ela _ ...
Ele _ ...
Ela _ humm...
Ele _ ...
Ela _ ...
Ele _ ...
Ela _ ... legal... é... assim... eu...
Ele _ O que?
Ela _ Eu... obrigada!
Ele _ ...
Ela _Obrigada mesmo.
Ele _ humm...
Ela _ ...
Ele _ É só isso que tem a dizer, "obrigada"?
Ela _ Me desculpe Marcos, mas pra mim tudo ainda é muito novo...
Ele _ ...
Ela _ ...
Ele _ Acho que eu te entendo, talvez eu tenha me precipitado...
Ela _ Não, não é isso. Mas não sei se estou pronta.
Ele _ ...
Ela _ ...
Ele _ Pronta pra amar?
Ela _ Pronta pra dizer "eu te amo"...
Ele _ humm...
Ela _ ...
Ele _ Mas é como andar de bicicleta, a primeira vez é mais difícil... 
Ela _ ...
Ele _ ... rola uma insegurança, mas depois que se diz uma vez...
Ela _ Talvez seja isso...
Ele _ ...
Ela _ ... nunca aprendi a andar de bicicleta.
Ele e Ela _ ...
Os corpos se viram.

Isaac Ruy

Esse texto é a continuação desse AQUI!

24 novembro 2010

Dança na chuva

na noite
quente
as telhas cantam
com os pingos de chuva
gelada
e eu danço
solitário,
mas muito bem acompanhado,
obrigado,
pela alegria
que se espalha
no mormaço.


os olhos,
quase
fechados,
iludem e confundem
o corpo que gira,
enquanto flashes
passeiam
psicodelicamente
criando trilhas
reluzentes
e incostantes
de luz


agora,
no chão,
caído,
o vento frio
arrepia
e as roupas coladas ao corpo
desenham um nu
pudico
enquanto a mente
voa
ao som de iamamiwhoami
t


renasço,
então,
e a realidade transformada
assusta.
nada de livros queimados
teses e teorias
destruídas
apenas
o mesmo
de sempre.
respiro,
já é dia...

Isaac Ruy

15 novembro 2010

Cena noturna

Sabia que estava sendo seguida há algum tempo.
O perseguidor se mantia no escuro, ali podia se camuflar para não ser percebido.
A luz fraca da lamparina que ela carregava não chegava até o esconderijo dele, mas iluminava o bastante para que pudesse caminhar sem cair nas armadilhas do caminho.
O contraste entre a brilho âmbar do fogo aprisionado e a luz azul lunar que banhava a cena criava uma atmosfera de mistério.
A fita vermelha do cabelo já se perdera no percurso e os cabelos soltos agora dançavam no ar com o vento noturno.
Sentia que ele estava cada vez mais próximo.
Aflita, corria e nada ouvia além de seus próprios passos, enquanto, pelo escuro, o perseguidor se movimentava com uma sutileza muda, como se flutuasse.
Foi então que ela olhou para trás e viu, de relance, um brilho dourado em meio a escuridão.
Caiu, mas, apesar de ofegante, estava aliviada.
A lamparina caída atrás de si fazia com que sua sombra se estendesse até as trevas onde o perseguidor se escondia, criando uma ligação entre eles.
Sorriu.
__ É você, meu anjo da guarda?
(Silêncio)
__ Não...

Isaac Ruy



14 novembro 2010

frases e pixações

Frases do banheiro publico da rodoviária de Catanduva:

 
"Dino 
Quero te comer"
"FIA DA PUTA NÃO VAI ME COMER NÃO
ASS: DINO"
"quero come a sua mulhe"
"TRATAR NINGUÉM QUÉ
                                             NÉ!"

Fotos tiradas por mim, Isaac Ruy.

10 novembro 2010

Gaiola

       Era preciso manter a ave amada em segurança de si mesmo, pois sabia que seu amor era tão intenso que poderia ser fatal para o pássaro.
       As frágeis asas não resistiriam à ânsia do contato constante e os pequeninos pulmões, acostumados ao ar leve, não suportariam os fortes abraços e beijos intermináveis que ele mantinha, com as últimas forças, apenas no âmbito do desejo.

       Buscou a gaiola, abriu a portinhola e, depois de refletir, tomou a difícil, mas correta, decisão. Fechou, trancou e jogou as chaves para longe do alcance.
      Ali, preso, observava, com os olhos marejados de emoção e sacrifício, o pássaro cantando a liberdade.

Isaac Ruy

03 novembro 2010

Amor é fogo

Viviam um amor tão ardente que estavam sempre se queimando.
As palavras que antes aqueciam eram, agora, lançadas como brasa.
O clima estava quente, mas não havia mais lenha, nem fumaça havia - só cinzas.

Isaac Ruy

Sem fim e sem começo: Meio

 [...] e de relance olhou pela janela. Mesmo com tudo aquilo que tinha para fazer resolveu se sentar por alguns instantes diante dela. Comprara aquela casa pela vista da janela, mas nunca tinha se sentado ali para apreciar.
Viu o menino soltando pipa, a mulher subindo a ladeira com a trouxa de roupa, os prédios escorrendo água suja pelas calhas, os velhos jogando dominó, as velhas fofocando em frente ao portão, os carros estacionados, e viu os cachorros correndo atrás da bicicleta, e os pássaros nos fios, e viu o pôr do sol e as estrelas aparecendo uma a uma.
Despertou com o deslizar da gata por entre suas pernas pedindo comida.
Não sabia quanto tempo permanecera ali, mas já não importava [...]



Isaac Ruy

30 outubro 2010

Fluxo VI

estava esperando já havia alguns minutos e ela ainda não tinha saído o que era de se estranhar pois ela sempre seguia a rotina e nunca se atrasava talvez um minuto ou dois mas quinze era muito estranho mesmo assim permaneceu ali esperando do outro lado da rua e então se lembrou do vestido novo que espiou ela comprando provavelmente está experimentando diversos sapatos e jóias antes de sair sabia como as mulheres eram e sabia principalmente como ela era quando tinha um vestido novo e o vermelho era realmente lindo adorava quando ela vestia vermelho pois realçava a pele clara e ela sempre estava sorrindo quando a via de vermelho como se a cor fosse um estado de espírito o que seria bom pois nas últimas semanas notou que ela trazia um olhar triste e azulado como de quem chora escondido de repente ela sai sorridente e linda em seu novo vestido vermelho e salto e jóia os olhares não se cruzam embora ele não tire os olhos dela que entra no táxi e parte e então ele também parte pois queria comer alguma coisa e voltar a tempo de vê-la voltar como todos os dias

Isaac Ruy

25 outubro 2010

Sereia

O canto lhe chagava aos ouvidos suave como um susurro conduzido pelas águas do mar.
Não era preciso ver, sentia que a dona da voz possuia uma beleza inimaginável.
Se apaixonou.
O corpo então foi conduzido pela canção e embalado para a beira do barco pelo movimento hipnótico das ondas.
Pulou.
Tudo o que ouvia agora era seu pulmão se enchendo de água salgada enquanto bolhas que aprisionavam um grito subiam para a superfície.
Se tornou mais um dos cadáveres que ela colecionava no jardim submerso.

Isaac Ruy

24 outubro 2010

Fim

Ele então a viu chegar,
pálida em seu longo vestido negro;
os cabelos ondulando em um vento inexistente,
e na mão direita a foice que tudo encerra.

Um último murmúrio antes da partida:
__ Não te imaginava mais linda.

Isaac Ruy

05 outubro 2010

De manhã...

De manhã, quando o vento sopra por entre as folhas, traz consigo uma certa nostalgia que aparenta nunca acabar. As fotos me remetem à lembranças das quais quero esquecer. Extrair dessa alma errante, errada, desvairada.
A tarde…
A noite…
Levando-me assim à outras paragens!
Hoje, sou o vento que sopra por entre as folhas. Deixei meu rosto, meus olhos, minha vida, e refresquei minh’alma.

Nadson Way 

Leia mais AQUI


27 setembro 2010

A menina de lá


Foto minha que foi capa da Revista Literária Terceira Margem.

Foto: Isaac Ruy
Título: A menina de lá (sugestão do Christian)
Modelo: Tayla Ruy, minha priminha...

Veja a revista aqui:

26 setembro 2010

Depois

       O ar quente dominava a cena. O suor desenhava os traços dos corpos que há poucos instantes ainda estavam na cama, e, apesar de ainda ofegantes, eram conduzidos agora por uma frieza muda. 
       Ela, sentada no beiral da janela,  mantinha o rosto inexpressivo, como se todas as emoções lhe tivessem sido tomadas a força. Já não se importava com ovestido entreaberto, que deixava a mostra um seio nu e as coxas magras de menina moça. Os olhos perdiam-se no longe mirando a chegada da noite por traz dos telhados velhos e cheios de lodo antigo. 
       Ele se levantou da cadeira, colocou a camisa sem abotoar e ficou parado ao lado da cama. Acendeu um cigarro e então dialogaram em silêncio por alguns instantes. Sem trocarem sequer um olhar, saiu. 
       Sozinha, fechou os olhos e sentiu cheiro de chuva. Logo as tristes lembranças seriam levadas com a enxurrada e, de alma lavada, estaria pronta  para as flores que a primavera traria. Trovões anunciavam o que estava por vir.
       Assustou-se com as batidas na porta, abriu os olhos e voltou para a realidade do quarto
       Ainda estava cedo para sonhar

Isaac Ruy

23 setembro 2010

Fluxo V

saiu de casa apressada mas odiava estar com pressa odiava ter que andar mais rápido do que quando se está sem pressa pois tinha problemas com suor ela odiava suor ai como odiava sentir o suor escorrendo pelas costas e pela testa e acumulando nas axilas e desenhando um grande círculo ali e odiava círculos odiava as formas curvas gostava de ângulos e daquilo que era reto como o caminho que seguia correndo e olhando pois adorava observar mas odiava ser observada e olhava as pessoas para ver se estava sendo olhada e então a mulher a encarou e o homem a encarou e as crianças e o cachorro deitado na sombra a encararam e ela odiava crianças e cachorro e até mesmo o mendigo ousou lançar-lhe um olhar e ela odiava a cada um deles e odiava cada um dos olhos que a fitavam e enquanto cruzava uma vitrine espelhada que odiava percebeu que estava com a touca de banho na cabeça pois odiava molhar os cabelos de manhã e então arrancou a touca e jogou em uma lata de lixo sem remorsos pois há anos já odiava aquela touca
Isaac Ruy

06 setembro 2010

Vitrola

       Chovia. Lentamente, pegou o disco empoeirado e, cambaleando, encostou levemente a agulha pontiaguda com as mãos trêmulas.
      Sentou-se. No escuro, a melodia doce entoava reminiscências que surgiam suaves ao soar das notas de um passado resplandecente.
       Recordou os brinquedos, o olhar da avó, a casa amarela, os amigos da escola, a morte do gato, o tombo do pé de manga, os sonhos, o primeiro beijo - e como eram macios os cabelos dela, a nova rua, a nova casa, o barulho do portão, as fotos da família, os parceiros de jogo, a primeira namorada - e única, o cheiro do perfume dela e o som da respiração ofegante enquanto dormia encostada em seu peito e o modo como ela sorria quando na verdade estava triste e a decepção de não poder ser mãe e a inocente culpa que ela carregava. E se lembrou das brigas, da bebida, das noites na rua, das lágrimas dela, das malas na saída da porta e da saudade na entrada e das cartas não respondidas e amontoadas na caixa vermelha sobre a estante e da saudade que não envelheceu com ele mesmo depois de dezenas de anos sem notícas. E percebeu que estava só, que também não passava de uma lembrança, uma vaga recordação do que um dia fora, e que não havia, ou não ouvia, mais som chuva e murmúrio na rua e ranger de cadeira e nem respiração ouvia, ou havia, somente o silêncio...
somente o silêncio...
somente o silêncio...
somente o silêncio...
somente o silêncio...
somente o silêncio...
somente o silêncio...

Isaac Ruy




29 agosto 2010

Recluso



Estava preso havia anos e a escuridão era sua única companhia.
A reclusão para o aprendizado.
Queria aprender a valorizar a beleza simples das coisas e a desenvolver a paciência que tanto admirava nos sábios.
Na saída foi tão ávido em direção à luz que ficou cego instantaneamente.
Não tinha aprendido nada. 

Isaac Ruy


28 agosto 2010

Distração

Se distraiu com o canto dos pássaros
                                                                 e nem viu...

Isaac Ruy

26 agosto 2010

Carta

       Apaixounou-se perdidamente e decidiu escrever uma carta.
       Colocou tanto de si naquelas palavras que a tinta vermelha tornou-se sangue ali borrado em curvas caprichadas de letras de amor. Com a carta entregou também seu coração.
       Ela, depois de uma leitura rápida e um sorriso de escárnio, amassou o papel, que antes fora cuidadosamente dobrado, e o jogou no chão úmido de chuva.
       Ele ficou parado, sangrando e observando as palavras sumirem em segundos no papel molhado enquanto os olhos marejados transbordavam a dor que imaginava que jamais cicatrizaria.
       Ainda magoado viu a outra passar.
       Apaixounou-se perdidamente e decidiu escrever uma carta.

       Escolheu tinta azul dessa vez.

Isaac Ruy

22 agosto 2010

Janice Esquisitice

       Na escola era conhecida como Janice Esquisitice.
       Penteava os cabelos ruivos e crespos milimetricamente ao meio. Janice Esquisitice.
       Tinha olhos grandes e esverdeados, como os da mãe; o nariz adunco e longo, como o do pai; e uma boca fina e comprida, que ninguém sabia de quem herdara. Janice Esquisitice.
       Na escola não falava com ninguém, mas todos falavam com ela: fazendo piadas de suas roupas ultrapassadas e de seu corpo magro, gargalhando sobre o modo como enrubescia por trás das sardas, gritando o apelido que a acompanhava desde sempre. Janice Esquisitice. Janice Esquisitice. Janice Esquisitice.
      À noite, depois de jantar com os pais e irmãos, escrevia planos de vingança com caneta glíter em um bloco de folhas brancas. Janice Esquisitice.
      Um dia resolveu colocar sua vingança em prática, mas ninguém falou nada. Nunca mais ninguém disse nada.


Isaac Ruy

15 agosto 2010

Frustrações nas janelas

1
Todos os dias Janaina acordava cedo, tomava um banho frio da caixa e, mesmo sendo comprometida, passava nua diversas vezes pela janela do fundo do depósito para ser vista pelo novo vizinho, que tomava sol de óculos escuros na janela em frente. 
I
Todos os dias Nilson acordava cedo, pegava os óculos escuros e, guiado pela bengala, ia para a janela do apartamento em que morava sozinho e ficava ali sentindo o calor do sol de manhã, o toque da luz trazia lembranças de quando ainda enxergava.
2
Um dia Janaina comprou um perfume pelo catálogo e depois de usar quase metade do vidro foi para a janela e disse um "oi" para o vizinho. Um vento forte, desses que chegam tão rápido quanto vão, assustou e derrubou os óculos pretos do homem, deixando a vista os olhos brancos que fitavam o nada. Janaina gritou, fechou a janela e, furiosa, colocou um armário em frente para esquecer e nunca mais voltar a ver aqueles olhos outra vez.
II
Um dia Nilson sonhou com anjos, havia anos que não sonhava mais. Feliz e realizado foi para a janela sentir o sol. Um vento forte, desses que chegam tão rápido quanto vão, derrubou seus óculos mas trouxe um perfume que nunca tinha sentido e uma voz tão doce e suave como a dos anjos. Nilson se apaixonou e, ansioso, passou o resto do dia, e o resto da vida, ali sentado e sozinho, lembrando da voz, do cheiro e esperando o anjo passar outra vez.

Isaac Ruy

12 agosto 2010

Eco

Disse o que queria dizer
e ouviu o que não queria ouvir.

Isaac Ruy



essa imagem é uma brincadeira com a ambiguidade da palavra eco e do desenho cíclico.

05 agosto 2010

Geriátrica metafórica

       Estava cansada. Pensou em escrever um bilhete, uma carta, mas estava cansada.
       Sentou-se. Pegou as longas agulhas com os dedos longos e começou a tricotar a própria forca.
Isaac Ruy

04 agosto 2010

Fluxo IV



Chegou em casa com um sorriso que não expressava nem metade nem um terço só ilustrava um milésimo da felicidade que estava sentindo pois finalmente finalmente ela aceitara o convite para jantar depois de anos tentando sim pois ele sempre a convidara desde que ela fora transferida para o departamento dele e aquela noite seria memorável com certeza seria a melhor noite que teria em anos e merecia uma música uma não várias e então colocou sua seleção de óperas pois adorava ópera e nada melhor que ópera para ouvir quando se está feliz pois a música erudita o fazia delirar e sonhar e viajar entre sonhos de imagens psicodélicas enquanto o corpo produzia movimentos desconexos que nem ele sabia que podia fazer e foi ópera que ouviu durante horas e cantou ópera e gritou ópera e dançou ópera e sorriu tanta ópera que se esqueceu do encontro.



Isaac Ruy

02 agosto 2010

Túmulo

Parecia cena de filme.
Chovia.
Os guarda-chuvas pretos dominavam a cena.
Sons de choro, cochichos, olhares.
Depois tudo passou, tudo mudou.

Fazia sol.
O dia estava azulado.
Os pássaros cantavam ao som do farfalhar das árvores.
O cemitério estava vazio,
mas as rosas vermelhas estavam ali, intactas, relembrando o sangue derramado.
Seriam o único vestígio de vida,
se não fossem feitas de plástico.


Isaac Ruy

23 julho 2010

Costura

       Escolheu um tecido azul para fazer o vestido. A lã marrom para o cabelo foi cortada e costurada fio a fio para compor o corte perfeito. Os botões minúsculos e verdes para os olhos foram costurados vagarosamente e com cuidado para que ficassem simétricos. A boca feita com lã vermelha esboçava um sorriso frágil e doce, costurado com pontos curtos e apertados.
       Depois de pronta, finalizou em um último detalhe a razão da boneca existir: espetou a agulha no coração.

Isaac Ruy

Curiosidade

     Pela janela, viu que o marido trazia uma caixa verde; ele nunca comprava nada, achava que isso era coisa que ela devia fazer - Melhor assim.
     Na caixa só poderia haver um presente, para compensar o fato dele não ter nem ao menos se lembrado do aniversário de casamento na semana anterior - Como pôde esquecer?
     Desceu as escadas e observou que ele havia deixado a caixa sobre o armário, com certeza para que ela não alcançasse - Danado!
__ Como foi seu dia?
__ Bem.
__ Alguma novidade?
__ Não.
__ Nenhuma?
__ Não.
__ Nem pra mim?
__ Não.
__ Nadinha? (Beijo)
__ Ah! Sim, pelo que vejo já descobriu...
__ Descobri... mas foi sem querer... eu estava olhan...
__ Eu também fiz sem querer, mas acho é só lavar que a mancha sai.
__ Que mancha?
__ A mancha de mostarda na almofada, não foi isso que descobriu?
__ Ah... sim, foi... - Mentirosa, mentiroso.
     Ele subiu as escadas e foi para o quarto, enquanto ela refletia sobre o que fazer, sentada na mesa - O que fazer?
     Suspeitava que o marido pensasse que ela não tinha visto a caixa, o melhor era disfarçar e aguardar a entrega do presente com o pedido de desculpas - Vai ser lindo!
     Ouviu o som do chuveiro no andar de cima. Não parava de olhar para a caixa sobre o armário. Era como se ela a chamasse.
     O que seria? - Um anel? Não, a caixa era muito grande, tola. Um conjunto de jóias poderia ser. Ou um prefume. Ou um vestido preto de seda acetinada com faixa bordô e drapeado na altura da cintura com duas fivelas redondas e douradas no decote tamanho M, como aquele que ela elogiou enquanto passavam pelo centro da cidade, de carro, a caminho do mercado - Maravilhoso!
     Não resistiu, buscou uma cadeira, subiu e pegou a caixa. Agora estava sobre a mesa, parada e sensualmente sendo observada em todos os detalhes pela mulher que analisava cada aresta, cada face, cada ponto verde musgo - Estranho...
     O verde da caixa estava encardido, com algumas manchas, marcas de dedos e estava sem laço, o que deixava mais evidente os arranhões da tampa - Homens...
     Chacoalhou e o som abafado de dentro não possibilitava descobrir o que havia ali - Provavelmente por conta de alguma proteção para que o conteúdo não sofra choques e pancadas. Tomara que seja plástico bolha.
     Não tinha cheiro, não fazia barulho e o peso era mediano, nem pesado nem leve.
     Ouviu que o chuveiro foi desligado, ela tinha agora poucos minutos com a caixa que estava diante de seus olhos... fechada.
     Respirou fundo e criou coragem para abrir. Abriu a caixa lentamente e observou o conteúdo boqueaberta.
     Estava... surpresa.
     O marido descendo a escada avistou a mulher atônita.
     Dividiram a mesma expressão.

Isaac Ruy

Canção para inglês ver

Ai loviu forguétiscleine meini itapirú
forguetifaive anda u dai xeu no bonde Silva Manuel
ai loviu tchu revi istiven via catchumbai
independence la do Paraguai estudibeiquer Jaceguai
ou ies mai gless salada de alface flay tox mail til
oh istende oiu ou ié forguet not mi
ai Jesus abacaxi uisqui of xuxu
malacacheta independancin dei
istrit flexi me estrepei
delícias de inhame reclaime de andaime
mon Paris jet'aime sorvete de creme
ou ies mai veri gudi naiti
dubli faiti isso parece uma canção do oeste
coisas horríveis lá do faroeste do Tomas Veiga com manteiga
mai sanduíche eu nunca fui Paulo Iscrish
meu nome é Laski Enen Claudi Jony Felipe Canal
laiti endepauer companhia limitada
aiu Zé Boi Iscoti avequi Boi Zebu
Lawrence Olivier com feijão tchu tchu
trem de cozinha não é trem azul

Lamartine Babo