24 novembro 2010

Dança na chuva

na noite
quente
as telhas cantam
com os pingos de chuva
gelada
e eu danço
solitário,
mas muito bem acompanhado,
obrigado,
pela alegria
que se espalha
no mormaço.


os olhos,
quase
fechados,
iludem e confundem
o corpo que gira,
enquanto flashes
passeiam
psicodelicamente
criando trilhas
reluzentes
e incostantes
de luz


agora,
no chão,
caído,
o vento frio
arrepia
e as roupas coladas ao corpo
desenham um nu
pudico
enquanto a mente
voa
ao som de iamamiwhoami
t


renasço,
então,
e a realidade transformada
assusta.
nada de livros queimados
teses e teorias
destruídas
apenas
o mesmo
de sempre.
respiro,
já é dia...

Isaac Ruy

15 novembro 2010

Cena noturna

Sabia que estava sendo seguida há algum tempo.
O perseguidor se mantia no escuro, ali podia se camuflar para não ser percebido.
A luz fraca da lamparina que ela carregava não chegava até o esconderijo dele, mas iluminava o bastante para que pudesse caminhar sem cair nas armadilhas do caminho.
O contraste entre a brilho âmbar do fogo aprisionado e a luz azul lunar que banhava a cena criava uma atmosfera de mistério.
A fita vermelha do cabelo já se perdera no percurso e os cabelos soltos agora dançavam no ar com o vento noturno.
Sentia que ele estava cada vez mais próximo.
Aflita, corria e nada ouvia além de seus próprios passos, enquanto, pelo escuro, o perseguidor se movimentava com uma sutileza muda, como se flutuasse.
Foi então que ela olhou para trás e viu, de relance, um brilho dourado em meio a escuridão.
Caiu, mas, apesar de ofegante, estava aliviada.
A lamparina caída atrás de si fazia com que sua sombra se estendesse até as trevas onde o perseguidor se escondia, criando uma ligação entre eles.
Sorriu.
__ É você, meu anjo da guarda?
(Silêncio)
__ Não...

Isaac Ruy



14 novembro 2010

frases e pixações

Frases do banheiro publico da rodoviária de Catanduva:

 
"Dino 
Quero te comer"
"FIA DA PUTA NÃO VAI ME COMER NÃO
ASS: DINO"
"quero come a sua mulhe"
"TRATAR NINGUÉM QUÉ
                                             NÉ!"

Fotos tiradas por mim, Isaac Ruy.

10 novembro 2010

Gaiola

       Era preciso manter a ave amada em segurança de si mesmo, pois sabia que seu amor era tão intenso que poderia ser fatal para o pássaro.
       As frágeis asas não resistiriam à ânsia do contato constante e os pequeninos pulmões, acostumados ao ar leve, não suportariam os fortes abraços e beijos intermináveis que ele mantinha, com as últimas forças, apenas no âmbito do desejo.

       Buscou a gaiola, abriu a portinhola e, depois de refletir, tomou a difícil, mas correta, decisão. Fechou, trancou e jogou as chaves para longe do alcance.
      Ali, preso, observava, com os olhos marejados de emoção e sacrifício, o pássaro cantando a liberdade.

Isaac Ruy

03 novembro 2010

Amor é fogo

Viviam um amor tão ardente que estavam sempre se queimando.
As palavras que antes aqueciam eram, agora, lançadas como brasa.
O clima estava quente, mas não havia mais lenha, nem fumaça havia - só cinzas.

Isaac Ruy

Sem fim e sem começo: Meio

 [...] e de relance olhou pela janela. Mesmo com tudo aquilo que tinha para fazer resolveu se sentar por alguns instantes diante dela. Comprara aquela casa pela vista da janela, mas nunca tinha se sentado ali para apreciar.
Viu o menino soltando pipa, a mulher subindo a ladeira com a trouxa de roupa, os prédios escorrendo água suja pelas calhas, os velhos jogando dominó, as velhas fofocando em frente ao portão, os carros estacionados, e viu os cachorros correndo atrás da bicicleta, e os pássaros nos fios, e viu o pôr do sol e as estrelas aparecendo uma a uma.
Despertou com o deslizar da gata por entre suas pernas pedindo comida.
Não sabia quanto tempo permanecera ali, mas já não importava [...]



Isaac Ruy