24 outubro 2011

Flores

A empregada atendeu à porta.
Quando adentrou a sala, com o enorme buquê a mão, recebeu um olhar rápido da patroa que abriu um enorme sorriso.
__É lindo "né", dona Gisela? - disse a empregada, também sorrindo.
__É, e me dê antes que estrague com suas mãos imundas - esbravejou a patroa, destruindo o sorriso da empregada e ocultando o próprio por alguns instantes.
__Me desculpe dona Gisela, eu só "tava" elogian...
__Pare de falar e vá buscar um vaso para colocar minhas flores.
A empregada saiu da sala com os olhos marejados enquanto a patroa olhava as flores com os olhos brilhantes.
Esperou a empregada voltar com o vaso antes de ler o cartão, fazia questão de ler em voz alta para colocá-la em seu lugar.
__Veja, Jandira - disse a patroa com um sorriso de superioridade - "Querida, essas flores nem se comparam à sua beleza, mas espero que sirvam para alegrar seu dia, de seu admirador secreto". 
__Muito bonito, dona Gisela - sorriu a empregada.
__Você já recebeu flores assim, Jandira? - sorriu a patroa balançando o cartão enquanto a empregada em silêncio balançava a cabeça - Eu já imaginava... afinal uma empregada nunca rece... - o sorriso se desfez em olhos arregalados de susto mirando o cartão.
__O que aconteceu, dona Gisela? - perguntou, com um olhar desconfiado, a empregada.
__Nada, - sorriu a patroa - veja você mesma, só não vá sujar - disse, entregando o cartão à empregada.
A empregada olhou o cartão, sorriu humilhada e o devolveu à patroa.
__Muito bonito mesmo o que ele escreveu, dona Gisela, letra bonita... Agora vou terminar o jantar.
__Vai...  - a patroa sorriu se abanando com o cartão até ver a empregada sumir na cozinha.
Assim que se encontrou sozinha rasgou o cartão e jogou no lixo. Não queria correr o risco de alguém ver que não era seu nome escrito no outro lado do cartão. Agora, tranquila, podia, realmente, sorrir aliviada - sabia que nem todos os empregados tinham olhos analfabetos como Jandira.

Isaac Ruy

17 outubro 2011

Vitória muda

No quarto, deitada, ela o viu chegar e permanceu em silêncio.
Ele tentou se explicar, mas ela não disse uma palavra.
Muda, se virou e dormiu.
Ele passou a noite em claro.

Preferia quando ela gritava, ao menos parecia que ele tinha um pouco de razão.
O silêncio era um argumento impossível de contestar, rebater e questionar.
Ela sabia disso.

Isaac Ruy

Túmulo

Prometeu que sua boca seria um túmulo.
Mas só cumpriu a promessa depois que já estava enterrado.

Isaac Ruy

01 outubro 2011

Borderline

Era uma pessoa difícil, vivia cortando relações. 
No fim, sozinha, só lhe restaram as cicatrizes.

Isaac Ruy