26 setembro 2010

Depois

       O ar quente dominava a cena. O suor desenhava os traços dos corpos que há poucos instantes ainda estavam na cama, e, apesar de ainda ofegantes, eram conduzidos agora por uma frieza muda. 
       Ela, sentada no beiral da janela,  mantinha o rosto inexpressivo, como se todas as emoções lhe tivessem sido tomadas a força. Já não se importava com ovestido entreaberto, que deixava a mostra um seio nu e as coxas magras de menina moça. Os olhos perdiam-se no longe mirando a chegada da noite por traz dos telhados velhos e cheios de lodo antigo. 
       Ele se levantou da cadeira, colocou a camisa sem abotoar e ficou parado ao lado da cama. Acendeu um cigarro e então dialogaram em silêncio por alguns instantes. Sem trocarem sequer um olhar, saiu. 
       Sozinha, fechou os olhos e sentiu cheiro de chuva. Logo as tristes lembranças seriam levadas com a enxurrada e, de alma lavada, estaria pronta  para as flores que a primavera traria. Trovões anunciavam o que estava por vir.
       Assustou-se com as batidas na porta, abriu os olhos e voltou para a realidade do quarto
       Ainda estava cedo para sonhar

Isaac Ruy

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