26 maio 2011

Pena's

Contemplava, com olhar de culpa, a gaiola vazia.
Apesar de atento ao que acontecia a sua volta, não desgrudava os olhos da gaiola que ainda balançava, vazia e com a portinhola aberta.
A dança das grades, pra lá e pra cá, é que lhe prendia a atenção, como um pêndulo que hipnotiza.
Sentia uma vontade louca de pular e brincar com o obejto pendurado, mas estava de barriga cheia e preferiu fazer gracinhas com as plumas que flutuavam ao vento, como se a brincadeira amenizasse o crime cometido.

Isaac Ruy

18 maio 2011

Bipolar

Estava tão otimista que ficou com medo de dar tudo errado.

Isaac Ruy 

16 maio 2011

Vid'areia

...e a vida
se esvai
como...
...areia,
...levada pelo vento,
...alheia,
ou...
e
s
c
o
r
r
i
d
a

pelo gargalo 
da 
ampulheta
de quem
anseia
por mais 
um 
grão
.

Isaac Ruy



14 maio 2011

Leito

Não conseguia enxergar, estava perdido na escuridão.
Não via saída, não via nada.
Percebeu que não conseguiria mais sonhar e era melhor acordar para a realidade.
E foi isso que fez, começou abrindo os olhos.

Isaac Ruy

03 maio 2011

Zelo paradoxal

Amava suas recordações, por isso guardava tudo em envelopes lacrados embalados em plástico bolha dentro de caixas fechadas e empacotadas com fita sobre o maleiro do guarda-roupa.
Ficavam protegidas, seguras, escondidas, intactas - e esquecidas.


Isaac Ruy

02 maio 2011

Sem

Alguém viu minha paciência por aí?
Acho que perdi...

Estou perdendo tudo...
a memória, por exemplo, perco sempre...
nunca me lembro onde deixei!

 

Fluxo IX

e olhava com aquele olhar doce e provocante que sabia que realmente provocava a boca esboçava um sorriso mas só esboçava não queria que ele percebesse a felicidade que sentia em vê-lo comer todo o prato que preparara a cada garfada era um pequeno prazer que sentia e adorava ver que ele estava gostando então seus olhos se arregalaram ao mesmo tempo em que os dele notou que ele percebera que havia algo errado não se preocupe querido vai ser rápido e se levantou com a taça de tinto espumante para ver os instantes finais pois agora ele já agonizava no chão com vômito e espuma vermelha de sangue escorrendo pela boca e nariz e então ela sorriu e esperou alguns segundos ali olhando antes de ter certeza que podia retirar a mesa e olhava com aquele olhar sério e calmo que sabia que realmente acalmava a boca mastigava a comida insistentemente mas só insistia para que ela não percebesse que o  jantar que ela preparara com tanto carinho estava com gosto de remédio a cada garfada era uma tortura mas sorria como se estivesse gostando então seus olhos se arregalaram ao mesmo tempo em que os dela percebeu que havia algo errado e que ela notara me ajude querida não estou respirando e caiu da cadeira e se contorcia com a necessidade de ar que ardia a garganta e vomitou o jantar e o vinho acompanhado de uma espuma amarga de sangue e então já não enxergava mais mas mesmo sem ver sentia que naquele último instante a mulher o observava e sorria 
Isaac Ruy



01 maio 2011

Colóquio Familiar

Que separem, de Ti, a personagem
Caiam as máscaras ante a verdade
E que seja feita a Tua vontade
Faço-Te homem, feito à minha imagem

Vive Tua vida com intensidade
leva a palavra com fé e coragem
Sofre torturas por uma mensagem
Morre na cruz por unanimidade

E quando voltares para o juízo
Com anjos, trombetas e alaridos
Irás escolher quem irá contigo

Alguns levarás para o paraíso
outros cairão em dor e gemidos
Tua balança anuncia o perigo

Isaac Ruy

Soneto simples criado em 2008 para o festivel cachoeirense de Sonetos do Espírito Santo, com ele ganhei uma menção honrosa.