07 março 2011

O homem sem chapéu

       Da janela do sobrado observava o misterioso homem de chapéu passando pela rua.
       Dada a altura em que olhava, nada via do rosto, mas o andar tranquilo e seguro do homem de chapéu esbanjava charme e elegância, alimentando ainda mais a imaginação da menina.
       Passava sempre no mesmo horário e ela estava sempre enfeitada e debruçada no parapeito a esperá-lo. 
       Ela sempre de laço e fita.
       Ele sempre de chapéu.
       Depois de semanas a imaginar coisas e escrever palavras de amor no diário escondido, criou coragem e o esperou sentada em frente ao sobrado, na calçada, como quem não quer nada - queria muito ver de perto o homem que o chapéu escondia.
       De longe avistou o chapéu e preparou o melhor sorriso, além de arregalar bem os olhos para não perder um detalhe do amado.
       Ele também a viu e, ao passar em frente moça tão bela e sorridente, não se conteve e cumprimentou-a sorrindo - e tirando o chapéu.
       Ela, sem responder o aceno, emburrou-se e entrou porta adentro indo chorar sozinha debruçada na cama.
       O cabelo em desalinho e o laço no chão.
       Antes não tivesse descido.
Isaac Ruy 

 Quadros de René Magritte


2 comentários:

  1. É difícil quando a paixão apenas existe pela dúvida, pelo não conhecer.
    Quando se mata a curiosidade, todo o resto vai junto.

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  2. Uaaau ! AdOrei seu textO ! E adOrei as imagens ;) Seu blOg eh lindO !

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