Estava triste, pensando sobre as infelicidades de sua vida, quando avistou algo pequeno que se locomovia lentamente aos seus pés. Aproximou-se e viu que se tratava, na verdade, de uma formiguinha carregando uma enorme pétala rosa.
Observou o modo como a coitada se esforçava para carregar a pétala, que tinha mais que o triplo de seu tamanho e, provavelmente, de seu peso. Pensou que um dos motivos de sua infelicidade era o excesso de trabalho, mas também pensou como a formiga fazia esse esforço danado e não reclamava, seguia em frente rumo ao formigueiro.
A viu desviar de buracos, escalar pedras e avançar lentamente pelo gramado. Refletiu que todo aquele esforço da pobre formiguinha mal seria recompensado, pois ela provavelmente entregaria a pétala para seus superiores sem receber um obrigado, assim como ela não recebia e era escravizada no departamento em que trabalhava.
A formiguinha atravessou, então, uma enorme poça que a impedia de chegar ao formigueiro, lágrimas correram pelo rosto, pois mesmo com todo esse sofrimeto a pétala ainda era arrastada. Mas por qual motivo? Nem direito ao amor a pobre formiguinha teria, era só uma operária destinada ao trabalho enquanto outros passavam o dia amando e sendo amados, levando uma vida de luxo como reis, sem precisar conferir projetos e redigir relatórios ou passar os fins de semana solitários assistindo comédias românticas e jantando miojo.
Quando a formiguinha saiu da água, faltavam poucos centímetros para chegar ao formigueiro e alcançar o objetivo da missão. Percebia-se que a pétala estava mais pesada, pois carregava algumas gotículas da poça, e que o caminhar da formiguinha era mais lento e desesperado. Ela então se decidiu e apressadamente deu um pisão bem firme esmagando a formiguinha com pétala e tudo. Percebeu, naquele momento, que só havia um modo de livrá-la do sofrimento e da solidão interior que a consumia.
Isaac Ruy