Abaixo está o discurso que escrevi e li, enquanto orador, na cerimônia de colação de grau do IBILCE/ UNESP. Estavam presentes os formandos dos cursos de Licenciatura em Letras, Ciências da Computação, Ciências Biológicas, Química Ambiental e Física Biológica.
Espero que gostem...
Para aqueles que quiserem publicar trechos ou o texto na íntegra, peço que dêem os créditos... não foi fácil escrever!
Boa noite senhoras e senhores, em primeiro lugar gostaria de agradecer a presença de todos, mas principalmente a paciência dos que aqui ainda estão, afinal sabemos que a cerimônia de colação de grau não é um dos eventos mais divertidos que temos o prazer de prestigiar, mas, com certeza, será um dos mais emocionantes e memoráveis para muitos, pois representa o resultado de anos de estudo e desenvolvimento de habilidades e conhecimento.
Poderia fazer um longo discurso de 3 horas, usando todo o jargão rebuscado e científico que aprendi em meus 5 anos de curso para convencê-los, por cansaço, que as carreiras que escolhemos serão algumas das ocupações mais nobres e reconhecidas da sociedade, contudo seria muita falta de bom senso começar a maquiar a realidade logo em minha primeira noite de formado.
Saibam que estamos saindo hoje formados em cursos que são, cada um em sua especialidade e particularidade, os fomentadores de uma sociedade melhor e possibilitadores do acesso à educação, à informação, à proteção ambiental e aos avanços científicos e tecnológicos - apesar de ainda termos um reconhecimento aquém do merecido. Entretanto, deixo para que cada um dos formandos reflita por si só o que poderá tirar de proveito e aplicabilidade dos ensinamentos advindos desses anos na universidade. O modo, os meios e a finalidade dependerão exclusivamente dos objetivos que tinham ao chegar para o primeiro dia de aula e dos que têm agora, ao sair com o diploma na mão.
O poeta português Fernando Pessoa nos inspira em seus versos afirmando que “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. “
Esses versos retratam bem o importante momento pelo qual estamos passando: intenso, inexplicável, Incomparável. Assim foi o tempo em que estivemos unidos enquanto colegas de sala, companheiros de turma e amigos pra vida; e assim é também o dia de hoje, dia de darmos mais um passo nesse caminho universitário, talvez o último, ou apenas um dos primeiros de muitos que se seguirão. O mais interessante e importante é que cada um de nós encarou esta experiência de maneira diferente. Alguns se envolveram em atividades políticas, outros em culturais, alguns estavam em todas as festas e outros não perdiam uma conferência, alguns gostariam de ter feito outro curso, outros encontraram o que realmente querem fazer por toda a vida. Assistimos às mesmas aulas, mas cada um da turma manteve sua personalidade, seu modo de encarar o curso e suas diferenças. E é bem verdade que nem sempre convivemos muito bem com elas, mas conviver com essa heterogeneidade de pessoas possibilitou que também nos transformássemos e nos preparássemos para um mundo que vai além do que gira em torno do nosso próprio umbigo.
Se agora olharmos para essa pessoa ao nosso lado, vestida com essa beca quente e engraçada, mal podemos relembrar o estranho que conhecemos na primeira semana em que chegamos à universidade. Mudamos tanto nesses anos para que hoje, sentados nessas cadeiras esperando para pegar o canudo, nos tornássemos iguais.
Um ideal de vida nos uniu, fez-nos companheiros de uma longa e árdua caminhada. Esse mesmo ideal vai, um dia, separar alguns de nós. Talvez ocorra hoje, amanhã, daqui a anos... porque é assim, cada um tem um destino a seguir. Nesses anos de graduação muitos permaneceram, alguns já ficaram no percurso, outros se agregaram. Hoje a saudade de um tempo que ainda não passou, que ainda acontece, nos invade, pois, infelizmente, o tempo tudo muda e nos faz esquecer aquilo que agora nos parece o mais importante: os amigos.
Pode ser que um dia nossos filhos olhem as fotos sorridentes dessa época e perguntem: "Pai, mãe, quem são esses aqui da foto?", e então responderemos "esses são meus amigos..." ainda que alguns responderão "guarda essa porcaria de foto moleque e vai buscar minha cerveja", não importará, o que importa é que hoje, aqui e agora existimos para fazer bem aqueles que nos cercam. E ainda que restem apenas fragmentos de memória, ficarão em nós marcas inapagáveis da presença, convivência e experiências desses amigos. Muito obrigado por fazer parte da minha história e permitir que eu faça parte de vocês.
Hoje também é o dia de olhar para trás e agradecer aos nossos pais, ou àqueles que cumpriram sua função, que, além de serem também nossos amigos, se sacrificaram, incentivaram e nos pressionaram para que estivéssemos aqui. A vocês que estiveram ao nosso lado e que agora estão aí sentados nos guardando com olhares orgulhosos e máquinas fotográficas frenéticas, somos gratos por tudo.
Não podemos nos esquecer de agradecer também àqueles que nos transmitiram o conhecimento, nossos mestres. Um muito obrigado por terem partilhado conosco parte do que sabem. De alguns nos tornamos amigos, outros se transformaram em exemplo, alguns em mito, mas no fim, todos contribuíram para nossa formação.
Por falar em formação, com o tempo aprendemos que a universidade também pode ser muito mais que assistir ás aulas e voltar para casa; aprendemos que as mesas da cantina são mais usadas para conversar que para comer, assim como algumas salinhas da biblioteca também são; aprendemos que ter posicionamento político atrairá a antipatia de alguns, mas não tê-lo também terá o mesmo efeito; que algumas provas sempre nos surpreenderão por sua inesperada complexidade ou simplicidade, ainda que seja mais pela primeira opção que pela segunda; além de muitas outras coisas também tomamos ciência de que pertencemos a uma classe privilegiada. São poucos os que chegam aonde chegamos e vencem como vencemos os obstáculos e barreiras que nos foram impostos desde a prova do vestibular.
Devemos às melhores condições que nos foram oferecidas, às oportunidades que nos foram proporcionadas e, finalmente, à instituição que nos concedeu este espaço, uma universidade com os mais variados problemas e virtudes e da qual nos vangloriamos de sair com um diploma. Somos formados pela UNESP.
Sua função vai muito além do mero informar, pois é o espaço, por excelência, do desenvolvimento e discussão de saberes novos ou já estabelecidos. É nela que está a pesquisa científica, a extensão e o ensino. Que há problemas, quem não sabe? Mas será que não é justamente este universo de dificuldades que nos faz diferentes? Mais sensíveis com que se passa também fora da instituição e um pouco mais críticos com o que acontece a nossa volta?
Está ou pelo menos deveria estar implícito a todos que, na verdade, nossos estudos não são gratuitos, e que é preciso dar retorno à sociedade, pois não é o estado benevolente que nos concede a graça de freqüentarmos as salas de aula. A educação é um direito de cada um de nós dentro da sociedade que sustenta esta Universidade, que paga por ela.
É a educação o grande trunfo para igualdade e a verdadeira democracia. Homens educados são homens que possuem recursos para colocar em liberdade o seu pensamento e a liberdade maior é a que se conquista através de idéias, que não podem ser destruídas pela força e que, dependendo de sua intensidade, imortalizam-se geração após geração e mantém vivos aqueles que inicialmente as acenderam.
E afinal, em que consiste este momento senão em um grande "Viva a Educação?" A conclusão de um curso superior em um país como o Brasil, com todas suas contradições e desigualdades sociais, significa a própria vitória da Educação: a vitória das idéias. A nossa vitória.
Para finalizar, gostaria de enfatizar que esse momento não é um momento de tristeza porque nos despedimos. É um momento de admitir que a vida de cada um de nós é feita de fases. Tudo muda. O mundo muda, mudamos nós. Amadurecemos e não envelhecemos, só envelhece quem quer. Nossas prioridades mudam e mudarão, nossa leitura de mundo também. Não devemos nos entristecer porque as coisas acabaram, mas agradecermos porque elas existiram. Aliás, nada aqui acabou, muito pelo contrário, esse é tão somente o começo, o ponto de partida para uma geração com vontade e disposição para mudar as coisas. Mudar a própria sina e mudar a realidade que nos cerca.
Ainda gostaria de falar de tanta coisa, de relembrar tantos fatos e situações, mas como não pretendo tornar a cerimônia mais longa do que já é, faço aqui, inspirado por Ricardo Ramos um dos maiores e mais ousados contistas do nosso tempo, um circuito que não será fechado, pois é apenas o começo. E começa assim:
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