23 julho 2010

Curiosidade

     Pela janela, viu que o marido trazia uma caixa verde; ele nunca comprava nada, achava que isso era coisa que ela devia fazer - Melhor assim.
     Na caixa só poderia haver um presente, para compensar o fato dele não ter nem ao menos se lembrado do aniversário de casamento na semana anterior - Como pôde esquecer?
     Desceu as escadas e observou que ele havia deixado a caixa sobre o armário, com certeza para que ela não alcançasse - Danado!
__ Como foi seu dia?
__ Bem.
__ Alguma novidade?
__ Não.
__ Nenhuma?
__ Não.
__ Nem pra mim?
__ Não.
__ Nadinha? (Beijo)
__ Ah! Sim, pelo que vejo já descobriu...
__ Descobri... mas foi sem querer... eu estava olhan...
__ Eu também fiz sem querer, mas acho é só lavar que a mancha sai.
__ Que mancha?
__ A mancha de mostarda na almofada, não foi isso que descobriu?
__ Ah... sim, foi... - Mentirosa, mentiroso.
     Ele subiu as escadas e foi para o quarto, enquanto ela refletia sobre o que fazer, sentada na mesa - O que fazer?
     Suspeitava que o marido pensasse que ela não tinha visto a caixa, o melhor era disfarçar e aguardar a entrega do presente com o pedido de desculpas - Vai ser lindo!
     Ouviu o som do chuveiro no andar de cima. Não parava de olhar para a caixa sobre o armário. Era como se ela a chamasse.
     O que seria? - Um anel? Não, a caixa era muito grande, tola. Um conjunto de jóias poderia ser. Ou um prefume. Ou um vestido preto de seda acetinada com faixa bordô e drapeado na altura da cintura com duas fivelas redondas e douradas no decote tamanho M, como aquele que ela elogiou enquanto passavam pelo centro da cidade, de carro, a caminho do mercado - Maravilhoso!
     Não resistiu, buscou uma cadeira, subiu e pegou a caixa. Agora estava sobre a mesa, parada e sensualmente sendo observada em todos os detalhes pela mulher que analisava cada aresta, cada face, cada ponto verde musgo - Estranho...
     O verde da caixa estava encardido, com algumas manchas, marcas de dedos e estava sem laço, o que deixava mais evidente os arranhões da tampa - Homens...
     Chacoalhou e o som abafado de dentro não possibilitava descobrir o que havia ali - Provavelmente por conta de alguma proteção para que o conteúdo não sofra choques e pancadas. Tomara que seja plástico bolha.
     Não tinha cheiro, não fazia barulho e o peso era mediano, nem pesado nem leve.
     Ouviu que o chuveiro foi desligado, ela tinha agora poucos minutos com a caixa que estava diante de seus olhos... fechada.
     Respirou fundo e criou coragem para abrir. Abriu a caixa lentamente e observou o conteúdo boqueaberta.
     Estava... surpresa.
     O marido descendo a escada avistou a mulher atônita.
     Dividiram a mesma expressão.

Isaac Ruy

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