28 junho 2009

Antes de ir ao baile

Vejo nos cacos do espelho
vestígios das pétalas de narciso

Tudo me parece intenso:
o ranger das pernas da cadeira,
o aroma do café amargo,
as roupas coloridas no varal...
Meus sentidos se confundem

Poucas folhas me restam nesse outono solitário

As mãos trêmulas seguram o retrato
Lágrimas, que se perdem no labirinto de rugas,
afogam-me de saudade
nessas paredes que me cercam

Reminiscências inebriam, atordoam.
Quem dera a existência fosse eterna
ou que déssemos juntos o adeus

És anjo e faço-me Ícaro.
Deixo nas palavras meu silêncio,
meu grito mudo,
e na gélida espera faço-me cinzas,
aguardando o reencontro
para dançarmos a última valsa



Isaac Ruy



Poema vencedor da Menzione Particolare del Premio Internazionale di Poesia Nosside di 2008.

Um comentário:

  1. Isaac, hoje, após adicionar você no orkut, entrei no seu blog. Não pude deixar de comentar. Seus poemas transbordam aquilo que mais prezo: intensidade. Gostei muito.

    Abraços,
    Jhenifer.

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